sábado, 16 de fevereiro de 2008

Possíveis repercussões da independência do Kosovo

Belgrado não mente quando liga o Kosovo à essência da Sérvia. Basta notar, por exemplo, que os principais locais de culto desse povo de cristãos ortodoxos estão no território que, se independente, será um país islâmico. Não cabe aqui a complexidade histórica, importando notar apenas o modo como, sobretudo por uma natalidade destravada, os albaneses se tornaram esmagadoramente maioritários, factor nada despiciendo numa região onde os nacionalismos são exacerbados, os ódios corrosivos e as feridas muito profundas.

A questão da independência do Kosovo desenhou-se após a morte de Tito, em 1980, que desencadeou a desagregação da Jugoslávia. Momento marcante foi a ascensão de Slobodan Milosevic ao poder, na Sérvia, pela agudização dos nacionalismos que levou às sangrentas guerras da primeira metade da década de 1990. Após os acordos de Dayton, que criaram novos estados e esqueceram o Kosovo, a população albanesa começou a organizar a resistência armada em torno do UÇK (Exército de Libertação do Kosovo), que levou à intensificação da repressão da Sérvia e à intervenção da OTAN (1999). Hoje, só as forças internacionais dão à minoria sérvia algum descanso, sob a ameaça latente da maioria.

A consumar-se, a independência do Kosovo pode estimular outras ambições. O País Basco ou a zona de Chipre ocupada por turcos são exemplos óbvios, mas admite-se que a sequela ocorra logo ao lado. Basta referir que 88% dos habitantes da Republika Srpska, um dos dois grandes sectores que compõem a Bósnia-Herzegovina, são sérvios desejosos de ser absorvidos pela grande pátria.

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